Friday, July 07, 2006

Será arte?

Ouvi dizer que poeta é quem nasceu com talento para pôr-do-dol...

Isso me fez pensar (OH!) - penso logo existo...logo penso...se existo?!? Sei não!

Acho que todo mundo já parou para admirar um pôr-do-sol, daqueles cheios de cores e suas nuances. E isso não habilita ninguém a ser poeta. Mas sim, se você sente um formigamento quando o relógio da Igreja dá as seis badaladas...corre para olhar o dia, minguando. Fica feliz ao ver o show de cores, e logo depois vem aquela angústia que todo fim traz, toda estranheza e pavor que provoca. Aquela fração de segundos nos quais seus olhos, ainda não acostumados com a pouca luz, começam a apertar-se para enxergar melhor (principalmente se você, como a maioria dos poetas, é míope). Você deslumbra o cinza monótono da neblina e se sente em Londres. Até que a noite caia por completo, o desespero prossegue. E você, atônito, lembra Cesário Verde:

"Nas nossas ruas, ao anoitecer
Há tal soturnidade, há tal melancolia
Que as sombras, o bulício, o tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer"


Sim, se isso lhe ocorre...tens alma de poeta, meu amigo!
Não tenho pretensão de um dia ser "poeta" de ofício, pois sei que para mim, faltaria um melhor vernáculo e dias mais sofridos para lastimar...mas alma de poeta, que espera o dia todo pela noite e chora quando ela finalmente chega...acho que disso eu posso me gabar! E se você, ao ler isso, se sentiu descrito... venha comigo, me dá sua mão...vamos orar a São Fernando Pessoa e pedir a benção ao frei herege que é Saramago. E elejamos logo Camões como o novo Papa, que o povo tem pressa de um salvador! (E eu estou mergulhada na Literatura Portuguesa!!!)

Post Scriptum: Já que falei em poetas...citarei a poeta mais gaúcha e mais amada que eu conheço (porque dei de a conhecer e a amar):

VELHO AMOR
Lá passa o velhoe com ele vão-se anseios
no embalar, a certeza
de que um dia foi poeta
Aquele mesmo velho
foi quem me protegeu
e comigo pode sonhar
Eu ainda sou a mesma
menina de lábios virgens
que insistem em blasfemar
falsos amores.
Lá se vai o meu doce passado,
o meu mais alegre presente
sem possuir o futuro
que a vida não pode nos conceder
(Natália, 1998)

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