Saturday, December 30, 2006

In vino, veritas


O vinho tinto, o ventre extinto;
A taça de vinho tinto, seco;
O ventre de sonhos encarnados, úmidos.

A taça de vinho;
O ventre da mãe;
É guarida, proteção.

No vinho, a verdade;
No ventre, a humanidade.

***Imagem lindíssima, não? Foi ela que me inspirou a escrever esse textinho. Foi gentilmente roubada daqui:
e foi feita por um fotógrafo espanhol, de uma delicadeza adorável, chamado Chema Madoz. Confiram!

Friday, December 29, 2006

Ah, essa menina.

"Essa menina, essa mulher, essa senhora
Em que esbarro toda hora, no espelho casual
É de sombra e tanta luz, de tanta lama e tanta cruz...
Que acha tudo natural"

(Elis Regina)

"Porque eu tenho cinco dedos numa mão...

...e todos eles são diferentes uns dos outros".

Mulher
Preta
Pobre
Lésbica
Velha
E sim, eu poderia usar palavras mais "leves".

Mas não: pessoas desprezadas, tão à margem, precisam ser fortes. E o são.
Precisam de palavras fortes para definí-las. E aqui estão elas.

Porque chamar de mulher, chamar de preta, chamar de pobre, chamar de lésbica, chamar de velha, não é palavrão. São apenas palavras, não xingamentos. O que dói é que, muitas vezes, o fato de "ser" essas pessoas parecer quase uma afronta... Não é não, meus senhores.

***E para 2007: mais tolerância.

Thursday, December 28, 2006

War is over...


If you want it.

Que venha um novo ano, de paz, de amor, de tolerância e boa música.

Friday, December 22, 2006

Tá, podem dizer...


A Cloê não é a caaaara da tia Mila?
(foto tirada ontem, láaa de dentro da barriga da minha cunhada, aniversariante do dia)

Tuesday, December 19, 2006

When Harry met Sally



Harry Burns: I've been doing a lot of thinking, and the thing is, I love you.
Sally Albright: What?
Harry Burns: I love you.
Sally Albright: How do you expect me to respond to this?
Harry Burns: How about, you love me too.
Sally Albright: How about, I'm leaving.
Harry Burns: How about:
"I love that you get cold when it's 71 degrees out. I love that it takes you an hour and a half to order a sandwich. I love that you get a little crinkle above your nose when you're looking at me like I'm nuts. I love that after I spend the day with you, I can still smell your perfume on my clothes. And I love that you are the last person I want to talk to before I go to sleep at night. And it's not because I'm lonely, and it's not because it's New Year's Eve. I came here tonight because when you realize you want to spend the rest of your life with somebody, you want the rest of your life to start as soon as possible."

Monday, December 18, 2006

A Casa do Lago



This Never Happened Before
(Paul McCartney)



I'm very sure, this never happened to me before
I met you and now I'm sure
This never happened before

Now I see, this is the way it's supposed to be
I met you and now I see
This is the way it should be

This is the way it should be, for lovers
They shouldn't go it alone
It's not so good when you're on your own

So come to me, now we can be what we want to be
I love you and now I see
This is the way it should be
This is the way it should be

This is the way it should be, for lovers
They shouldn't go it alone
It's not so good when your on your own

I'm very sure, this never happened to me before
I met you and now I'm sure
This never happened before
This never happened before

**Algumas fotos e clips desse filme, que é uma graça, e com a trilha do Paul...ai ai. E como diria Nietzsche: "Life would be senseless without music".
Enjoy it!

Boletim Acadêmico Número 2


Chefiaaaa, essa vai em homenagem a você!!
Seis anos depois daquela bebedeira pós-vestibular, depois de ficar sócio do cursinho... cá estamos nós, brindando o mais novo médico da casa (Saaaanta Casa!)
Essa fera!!!
O maior formando da atualidade, mais do que nunca!
Tanto no pessoal quanto no profissional!
Parabéns, Fá, agora é contigo!
E se o Igor não confia nem o dedão do pé dele pra você, eu já fiz minha promessa:
Meu joelho é meio ferrado, quando ele estiver totalmente ferrado, jogo na tua mão! Nada que uma protesezinha não resolva, né seu dotô? A gente vai ali atrás e fica uma coisa pela outra...huahauha.
Beijãaaao pro orgulho da Dona Cecy!!!

Thursday, December 14, 2006

Banalizando

Outro dia vi uma comunidade no Orkut: "Banalizaram o 'eu te amo'".

Parei um minutinho pra refletir, essas relexões bobas que não nos levam a nada, a não ser talvez a escrever um texto que quase passa despercebido no meio de outras tantas postagens que quase passam despercebidas no meu blog que quase passa despercebido.

Poxa, amor não deveria ser condição para todos os seres humanos? Por que não criam comunidades como "Banalizaram a guerra" ou "banalizaram os mendigos na rua, as crianças nos faróis em dia de chuva"?

O ruim é que eu sei o porquê.
Porque essas coisas não chocam mais ninguém. Ninguém vê, não causa espanto.
Espantoso mesmo é ver alguém dizer "eu te amo" sem contrato assinado, 3 vias carbonadas, anel de ouro, promessas de amor eterno ou amizade até debaixo d'água.

Céus, precisa de tanto para amar os outros?
Porque, para mim, bastaria estar vivo, bastaria saber que somos todos diferentes, que ninguém é melhor que ninguém, (mesmo porque sempre fazemos as quantificações erroneamente, pergunta pro Pequeno Príncipe).

Eu não sei se sou muito ingênua, ou se amo demais, em todas as formas de amar... amor à familia, aos amigos, ao companheiro, amor à vida, à natureza, ao amo... amor à alegria, amor à dor, até mesmo amor à solidão.
E, oras, não deveria isso ser o 'normal', o 'comum'?!?

Acho que eu sei...
Banalizaram a insensibilidade.
E contra isso, meu bem...
Só altas doses de doidos (como eu) pelo mundo.

Da cumplicidade


Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração.
[em: Dois ou três almoços, uns silêncios (fragmentos disso que chamamos de "minha vida"), de Caio Fernando Abreu]

Meu ideal seria escrever...

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse: - "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria: - "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse - e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse: - "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

Rubem Braga

Tuesday, December 12, 2006

Oh, my daaaaarling Clementine



Elliott Smith - Clementine

They're waking you up to close the bar
The street's wet you can tell by the sound of the cars
The bartender's singing clementine
While he's turning around the open sign
Dreadful sorry clementine
Though you're still her man
It seems a long time gone
Maybe the whole thing's wrong
What if she thinks so but just didn't say so?
You drank yourself into slo-mo
Made an angel in the snow
Anything to pass the time
And keep that song out of yr mind
Oh my darling
Oh my darling
Oh my darling clementine
Dreadful sorry clementine

Monday, December 11, 2006

As dez perguntas...

Fui desafiada a escolher um cantor/banda, e responder umas questõezinhas usando as letras da tal banda ou do tal cantor. Como era de se esperar, eu vou de Engenheiros do Hawaii. Vamos ver no que dá!

Você é homem ou mulher?
"Pra enfrentar o que der e vier
Só a força de uma mulher
Que sabe muito bem o que quer
E ela sabe, ela sabe

Vai a luta e não escuta ninguém!
Nem a maioria esmagadora
A voz da razão
Bom senso, uníssono
Ensurdecedor..."

Descreva-se:

"Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
(um personagem de Camus...)
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão"

O que as pessoas acham de você?

"não me pergunte em que dia eu nasci, não me pergunte em que cidade eu nasci
esqueça as curvas da estrada de Santos
se tu quiseres saber quem eu sou...

me dá a tua mão vem viver,
vem lutar lado a lado

desarme as armadilhas, não me peça explicação
o filme favorito, time do coração
o lugar mais esquisito onde já fiz uma canção
esqueça o roteiro, não pergunte que horas são: eu não sei..."


Como descreveria seu último relacionamento amoroso?

"E a ilha não se curva
às águas turvas desse mar"

Descreva sua atual relação com seu namorado ou pretendente:

"Diga a verdade ao menos uma vez na vida
Você se apaixonou pelos meus erros
Não fique pela metade
Vá em frente, minha amiga
Destrua a razão desse beco sem saída
Diga a verdade
Ponha o dedo na ferida
Você se apaixonou pelos meus erros
Eu perdi as chaves
Mas que cabeça a minha!
Agora vai ter que ser para toda a vida
Somos o que há de melhor
Somos o que dá pra fazer
O que não dá pra evitar
E não se pode escolher
Se eu tivesse a força que você pensa que eu tenho
Eu gravaria no metal da minha pele o teu desenho
Feitos um pro outro... feitos pra durar
Uma luz que não produz sombra"

Onde queria estar agora?

"Atrás de palavras escondidas
nas entrelinhas do horizonte dessa Highway
Silenciosa Highway..."

O que pensa a respeito do amor?

"Sempre que eu preciso me desconectar
Todos os caminhos levam ao mesmo lugar,
É meu esconderijo, o meu altar,
Quando todo mundo quer me crucificar.
Eu só quero estar com você... Ficar com você.
Quando o tempo fecha e o céu quer desabar,
Perto do limite, difícil de agüentar,
Eu volto pra casa e te peço pra ficar... Em silêncio... só ficar"

Como é sua vida?

"Hoje eu sei, só a mudança é permanente"

O que pediria se pudesse ter apenas um desejo?

"que a noite traga
alívio imediato"

Escreva uma frase sábia:

"Se queres paz, te prepara para a
não queres nada...descanse em paz!"

E o desafio vai em frente...

- Taia
- João Guilherme
- Victor
- Nádia
- Dani, the Tangerine

Existe algo maior...


...do que as pequenas coisas?

Tuesday, December 05, 2006

Eles não são Chico Buarque, mas vão tentar!!!

Vamos lá, ouvir Chico com uma nova perspectiva e prestigiar o Ass: Maria (que ainda não sei se é a melhor banda do mundo, mas tenho certeza que é a banda do melhor amigo do mundo!)

Eu Não Sou Chico, Mas Quero Tentar
(Fernando Anitelli)


Eu não vou louvar valores,
Dos nossos amores as dores eu não vou contar,
O peito trajado de dores
A boca tragando rancores
E a dúvida não será onde chegar.
Brincando de ser e estar apenas,
Eu não sou Chico mas quero tentar
Mais cenas, dezenas, centenas,
sentadas, safadas, saradas, sanadas, sapatas,
perdidas, famintas, gigantes, pequenas

Eu não vou levar rancores
Dos nossos amores as cores eu não vou pintar,
O peito trajado de flores
A boca tragando sabores
E a dúvida não será onde chegar.
Brincando de ser e estar apenas,
Eu não sou Chico mas quero tentar
Mais cenas, dezenas, centenas,
sentadas, safadas, saradas, sanadas, sapatas,
perdidas, famintas, gigantes, pequenas

As nossas condutas tão putas nao valem a pena
Que pena, é, que pena
As nossas condutas confusas nos tiram de cena, ah...
Que pena, é, que pena
As nossas condutas tão putas nao valem a pena
Que pena, eh, que pena
As nossas condutas confusas nos tiram de cena, ah...
Que pena, eh, que pena

Vou, vou engarrafar essa dor,
Vou engarrafar a saudade
Vou me embreagar de tristeza
Bendizendo ela vira beleza,
Gentileza gera gentileza....
Vou, vou engarrafar essa dor,
Vou engarrafar a saudade
Vou me embreagar de tristeza
Bendizendo ela vira beleza,
Gentileza gera gentileza....

A herença da escola dos dias desde ave marias,
presságios e preces, ao jeito primeiro
e primario de abrir as gavetas
De achar nova nomenclatura,
de achar o coelho na lua
de reescrever tuas letras,
de se esconder entre linhas
De se apagar entre nós.
Se apagar entre nós, se apagar entre nós
Se apagar, se apagar....
Se apagar...pa..pa...

Friday, December 01, 2006

Je suis Amélie

- Sabe a garota do copo de água?
- Sei.
- Se parece distante, talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes?
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai arrumar?

(Le Fabuleux Destin d'AméliePoulain)

Para uma menina com uma flor

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde e tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito de leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou te passando para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim, procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido.
E porque você tem um rosto que esta sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo pra cima, como uma santa moderna, e anda lento, e fala em trinta e três rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor,eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim pra ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação,e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara naVidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizerque estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo na rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, Minha namorada, a fim de que, quando eu morrer,você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com o Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você"tem de ser a estrela derradeira,minha amiga e companheira no infinito de nós dois".
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha- a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu braço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah ,eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha direta de todas as mulheres que amei; e que todas as mulheres que amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.

Vinícius de Moraes - 1964
***E homens, já que não podem ser Vininha, citem essas maravilhas para suas mulheres!

Tuesday, November 28, 2006

Sobre a filosofia de meio de semana

Amar o amor.
Suplantar o ser amado pelo desejo de amar. Pois o ser amado muda. É só um alvo, e é alvo móvel.
O sentimento amoroso, esse não. Ele resiste porque é sublime.
E quem sabe responder
Se alguém que ama mais o amor do que o objeto de seu amor
É completamente insensível ou sensível até demais?

Se alguém que, a cada conquista efetuada
Cansa e parte para a próxima.
Morre de amores e depois
Abandona o ser amado.
Ama-o. Deixa-o.

E segue, como quem não quer nada,
Conquistando um novo amor, um alvo diferente, um ser inatingível
(Porque só vale se for assim).

Então ele ama louca e eternamente. Até que, enfim, o ser amado se apaixona, se dá, de corpo e alma, e como todo amante, vive tentando despi-lo de qualquer maneira. Pronto, hora de ir embora.

E uma pessoa assim, é feliz?
E uma pessoa assim, faz feliz?
E uma pessoa assim, é pessoa?

Diria o moço de bom coração, que não suporta a idéia de causar dor (mas ainda assim fica fascinado com o brilho da arte poética):
"Isso não é um homem, é um trovador!"
Com ele está, enfim, a resposta!!!
Quem vive pra amar o amor, não é humano, não é feliz, nem faz feliz.
Mas certamente, é um (grande) poeta.

Thursday, November 23, 2006

Eu não queria sentir nada

"Seu padre toca o sino
Que é pra todo mundo saber
Que a noite é criança,
Que o samba é menino
Que a dor é tão velha
Que pode morrer!"
(Olê, Olá - Chico Buarque)

A dor é tão antiga!
E ai, Chico, tens razão...
Bem que estava na hora de ela morrer mesmo!

(Olê, olá...quem sabe quando o - meu - carnaval chegar?)

Dores latentes.
Latejantes. latitudinais.
Lancinantes, lacerantes.
Languescentes, lacrimejantes.
E sempre começam com la.
La la la la. Láaaa.
Música pros meus ouvidos,
sugerindo:
Senhoras dores, dá pra ir pra ?
Não ouviram? VÃO EMBORA!

E esqueçam de uma vez por todas dessa alma frágil, curvada, aquilina.
Aqui, isso...me deixem aqui. Oca, sozinha. Mas, finalmente, sem dor.
(E quem sabe um dia... eu cate do chão os meus confetes e vá pular meu carnaval, em paz).

Ausente de mim

Dia desses eu estava tomando água na cozinha e meu irmão foi até lá, abriu a geladeira, olhou, fechou sem pegar nada (eu também faço isso...mas ver outra pessoa fazendo irriiiita).
Quando ele saiu da cozinha, apagou a luz e me deixou no escuro. Normal, somos um bando de desligados.
Ele disse:
"Opa!".
E poderia ter parado por aí. Mas ele continuou, para minha infelicidade e conseqüente insônia:
"Esqueci que você estava aí".
Poxa, ele tinha me visto há um milésimo de segundo e esqueceu. E bah, sabe o quê? Tem sido assim, sempre.
Eles esquecem da minha presença por um simples motivo: eu também esqueço. Eu sou ausência pura.
Ausente de mim. E isso não deveria doer tanto.

Wednesday, November 22, 2006

A carne é triste e ninguém te lê...tudo existe pra acabar em TV!!!


"Daysleeper"
(R.E.M)

Receiving department, 3 a.m.
Staff cuts have socked up the overage
Directives are posted.
No callbacks, complaints.
Everywhere is calm.

Hong Kong is present
Taipei awakes
All talk of circadian rhythm

I see today with a newsprint fray
My night is colored headache grey
Daysleeper

The bull and the bear are marking their territories
They're leading the blind with their international glories

I'm the screen, the blinding light
I'm the screen, I work at night.

I see today with a newsprint fray
My night is colored headache grey
Don't wake me with so much.
Daysleeper.

I cried the other night
I can't even say why

Fluorescent flat caffeine lights
Its furious balancing

I'm the screen, the blinding light
I'm the screen, I work at night

I see today with a newsprint fray
My night is colored headache grey
Don't wake me with so much.
The ocean machine is set to nine
I'll squeeze into heaven and valentine
My bed is pulling me,
Gravity
Daysleeper. Daysleeper.
Daysleeper. Daysleeper. Daysleeper.

***E eu continuo com dificuldades pra dormir na hora certa (que, por definição, é a hora que minha mãe dorme).

Friday, November 17, 2006

E a Engenharia Hawaiiana sempre vence...

Ontem estava fuçando nas velharias Enghaw que tenho lá em casa e achei um exemplar da saudosa Revista Zero, de 2003, que tinha uma das melhores entrevistas com Humberto Gessinger que já vi. E tendo meu irmão-exemplo dito que foi a melhor de todas, eu me sinto segura pra dizer que é realmente muito boa. Pensei em publicá-la aqui, mas ela é um tanto extensa e provavelmente ninguém a leria até o fim.
Bem, como desisti da entrevista, colocarei uma crônica do HG, que eles também publicaram, junto com a entrevista. E apesar de um pouco antiga, os amantes das boas letras, do bom futebol e do tricolor gaúcho...acredito que irão gostar:
Cai o Primeiro Zero do Placar
Quero fazer um gol num GreNal. De cabeça.
Para não ser muito rígido no meu pedido, aceito, como segunda opção, que seja num chute de fora da área. Mas faço questão que aconteça aos 38 do segundo tempo, numa tarde chuvosa, acabando com o zero-a-zero sofrido de um jogo truncado.Gostaria também que estivéssemos jogando com camisetas de mangas compridas, sem patrocínio, com números e distintivos bordados. Um rasgo na camisa suja de lama testemunharia a guerra que foi o jogo.

Os calções não seriam nem tão pequenos quanto os que se usava nos anos 80 e nem tão grandes quanto as bermudas dos anos 90. A bola seria de couro, com a costura aparente, aquelas usadas em mil novecentos e antigamente. Ainda não decidi com que número eu estaria jogando. Só sei que seria um número maior do que 11, pois eu entraria aos 35 do segundo tempo. Faltando 10 minutos para o fim do jogo, seu Ênio Andrade me chama...aquecimento...súmula...a torcida grita “Burro!” ...ninguém leva fé.

Eu poderia ser uma jovem promessa estreando no time ou um veterano em fim de carreira. Talvez eu estivesse voltando de uma lesão. Talvez todo o resto do plantel reserva tivesse passado mal depois de beber uma misteriosa água...
O fato é que entro em campo e formo, com meus companheiros, a fina flor tricolor. Danrlei e Yura guerreando... Alcindo revezando a centroavância com André Catimba ... De Leon, Ancheta e Adílson descobrindo um jeito de jogarem juntos ... Renato numa ponta e gringo Ortiz na outra...Flecha, Wilson Cavalo, Beto Fuscão e Beto Bacamarte, pela poesia dos nomes... Ronaldinho voltando e deixando irado o PSG... Arce e Roger... Emerson e Everaldo ... Dener e PC Caju... Éder e Loivo... Chamaco e Scotta ... Baltazar e Jardel. Jogam mais do que onze neste time pois a matemática dos sonhos tem seus caprichos.
O mais fascinante seria a mixagem da trilha sonora : quero escutar a bola roçando a rede, o desabafo do zagueiro adversário, a torcida saindo do silêncio, a volta dos que já saiam do estádio. Ao mesmo tempo, quero ouvir a narração do gol com todos os clichês possíveis.
Quero que algum repórter invada o campo na hora da comemoração para que eu diga algo incompreensivelmente ofegante em meio a palavrões. Quero ouvir o cara do plantão dando as estatísticas antes que o comentarista confesse sua surpresa.

Um cartão amarelo por vibração excessiva seria o final perfeito para o gol que eu quero fazer num GreNal. Se me empolguei e acabei pedindo demais, tenho outro sonho, talvez mais acessível : pegar um pênalti num GreNal. Um milagre. Canto esquerdo. Eu estaria usando um uniforme igual ao que vejo nas fotos do Eurico Lara, mas seria no moderno Olímpico Monumental pós-Hélio Dourado.
Pensando bem, será que eu não posso pegar um pênalti E fazer o gol decisivo em um mesmo GreNal? Puxa, todo gaúcho deveria ter este direito!

Humberto Gessinger - Porto Alegre
Revista Nação Tricolor

Sobre as escolhas perfeitas de Cássia Eller

"Eu poderia ser um mágico ilusionista
Um domador, um gigolô, um psicanalista
Eu poderia ser um campeão de golfe
De luta-livre, de xadrez e do que quer que fosse
Eu poderia ser um escritor da moda
De quem se fala muito mal (e ele nem se incomoda)
Eu poderia ser um alto funcionário
Um balconista ou um bandido sangüinário
E não há nenhuma outra hipótese
Que eu não considere, mas
O que eu queria mesmo ser
É a Cássia Eller"
(Péricles Cavalcante)

Cássia Eller foi uma intérprete genial, e sempre escolheu muito bem as canções que imortalizou. Cercada por ótimos compositores-amigos, como Nando Reis, por tantas vezes inspirado nela mesma; Renato Russo, que lhe deu '1º de Julho' de presente, quando estava grávida; e Cazuza, que mereceu dela um álbum-homenagem. Mas não ficou só nisso. E aqui eu coloco trechos de algumas das minhas versões preferidas da Cássia:

The end
(The Beatles)

Oh yeah, all right
Are you gonna be in my dreams tonight?
Love you, love you...
And in the end, the love you take
Is equal to the love you make...

Garoto De Aluguel
(Zé Ramalho)

Baby, dê-me seu dinheiro que eu quero viver
dê-me seu relógio que eu quero saber
quanto tempo falta para lhe esquecer
quanto vale um homem para amar você...

Você passa, eu acho graça
(Ataulfo Alves/Carlos Imperial)

Tanta volta o mundo dá
Nesse mundo eu já rodei
Voltei ao mesmo lugar
Onde um dia eu encontrei
Minha musa, minha lira, minha doce inspiração
Seu amor foi a mentira
Que quebrou meu violão
E agora você passa, eu acho graça
Nessa vida tudo passa
E você também passou
Entre as flores, você era a mais bela
Minha rosa amarela
Que desfolhou, perdeu a cor...

Vida Bandida
( Lobão / Bernardo Vilhena )

É preciso viver, malandro
Assim não dá pra se segurar, não
A grana tá braba, a vida tá dura
Mas um tiro só não vai me derrubar
...
Correr
Com lágrimas, com lágrimas
Com lágrimas nos olhos
Não é definitivamente
Para qualquer um
Mas o riso corre fácil
Quando a grana corre solta...


Woman is the Nigger of the World
(John Lennon/ Yoko Ono)

Woman is the nigger of the world
Yes she is...think about it
Do something about it
We make her paint her face and dance
If she won’t be slave, we say that she don’t love us
If she’s real, we say she’s trying to be a man
While putting her down we pretend that she is above us

Woman is the nigger of the world...yes she is
If you don’t belive me take a look to the one you’re with
Woman is the slaves of the slaves
Ah yeah...better scream about it!

Meu Mundo Ficaria Completo (Com Você)
(Nando Reis)


Não é porque eu sujei a roupa bem agora que eu já estava saindo
Nem mesmo por que eu peguei o maior trânsito e acabei perdendo o cinema
Não é por que não acho o papel onde anotei o telefone que estou precisando
Nem mesmo o dedo que eu cortei abrindo a lata e ainda continua sangrando
Não é por que fui mal na prova de geometria e periga d'eu repetir de ano
Nem mesmo o meu carro que parou de madrugada só por falta de gasolina
Não é por que tá muito frio, não é por que tá muito calor

O problema é que eu te amo
Não tenho dúvidas que com você daria certo
Juntos faríamos tantos planos
Com você o meu mundo ficaria completo
Eu vejo nossos filhos brincando
E depois cresceriam, e nos dariam os netos
A fome que devora alguns milhões de brasileiros
Perto disso já nem tem importância
A morte que nos toma a mãe insubstituível de repente
Dela eu já nem me lembro
A derrota de 50 e a campanha de 70 perdem totalmente o seu sentido,
As datas, fatos e aniversariantes passam
Sem deixar o menor vestígio
Injúrias e promessas e mentiras e ofensas caem fora
Pelo outro ouvido
Roubaram a carteira com meus documentos
Aborrecimentos que eu já nem ligo

Não é por que eu quis e eu não fiz
Não é por que não fui
E eu não vou
O problema é que eu te amo
Não tenho dúvidas que eu queria estar mais perto
Juntos viveríamos por mil anos
Por que o nosso mundo estaria completo
Eu vejo nossos filhos brincando
Com seus filhos que depois nos trariam bisnetos

Não é por que eu sei que ela não virá que eu não veja a porta jáse abrindo
E que eu não queira tê- la, mesmo que não tenha a mínima lógica esse raciocínio
Não é que eu esteja procurando no infinito a sorte
Para andar comigo
Se a fé remove até montanhas, o desejo é o que torna o irreal possível
Não é por isso que eu não possa estar feliz, sorrindo e cantando
Não é por isso que ela não possa estar feliz, sorrindo e cantando
Não vou dizer que eu não ligo, eu digo o que eu sinto e o que eu sou

O problema é que eu te amo
Não tenha dúvidas, pois isso não é mais secreto
Juntos morreríamos, pois nos amamos
E de nós o mundo ficaria deserto
Eu vejo nossos filhos lembrando
Com os seus filhos que já teriam seus netos

1º de Julho
(Renato Russo)

Eu vejo que aprendi
O quanto te ensinei
E nos teus braços que ele vai saber
Não há por que voltar
Não penso em te seguir
Não quero mais a tua insensatez
O que fazes sem pensar aprendeste do olhar
E das palavras que guardei pra ti
Não penso em me vingar
Não sou assim
A tua insegurança era por mim
Não basta o compromisso
Vale mais o coração
Já que não me entendes, não me julgues
Não me tentes
O que sabes fazer agora
Veio tudo de nossas horas
Eu não minto, eu não sou assim
Ninguém sabia e ninguém viu
Que eu estava a teu lado então
Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
Sou minha mãe e minha filha,
Minha irmã, minha menina
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser
Sou Deus, tua deusa, meu amor

Alguma coisa aconteceu
Do ventre nasce um novo coração

O que fazes por sonhar
É o mundo que virá pra ti e pra mim
Vamos descobrir o mundo juntos baby
Quero aprender com o teu pequeno grande coração
Meu amor, meu Chicão...

Não Amo Ninguém
( Frejat / Ezequiel Neves/ Cazuza )
Eu ontem fui dormir todo encolhido
Agarrando uns quatro travesseiros
Chorando bem baixinho, bem baixinho, baby
Pra nem eu nem Deus ouvir
Fazendo festinha em mim mesmo
Como um neném, até dormir
Sonhei que eu caía do vigésimo andar
E não morria
Ganhava três milhões e meio de dólares
Na loteria
E você me dizia com a voz terna, cheia de malícia
Que me queria pra toda vida
Mal acordei, já dei de cara
Com a tua cara no porta-retrato
Não sei por que que de manhã
Toda manhã parece um parto
Quem sabe, depois de um tapa?
Eu hoje vou matar essa charada
Se todo alguém que ama
Ama pra ser correspondido
Se todo alguém que eu amo
É como amar a lua inacessível
É que eu não amo ninguém
Não amo ninguém
Eu não amo ninguém, parece incrível
Não amo ninguém
E é só amor que eu respiro

Monday, November 13, 2006

Eu apenas queria que você soubesse

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho...

(Gonzaguinha)

Monday, October 23, 2006

Sobre a princesinha do papai...

Um dia, a boneca percebeu que seu rostinho não era de louça.
(e ainda assim, seu coração quebrava à toa)

Um dia a boneca percebeu que não era de pano. E foi logo ao sentir na pele as pancadas da vida, a frieza à queima-roupa.
(e amigos, acreditem, a frieza queima)

Mas, apesar da dor...a boneca também podia sentir o vento bater em seu rosto, seu amor beijar-lhe os lábios... e isso valeria qualquer tapa na cara.

Um dia jogaram fora o vestido branco com detalhes de fita verde que vestia o corpinho frágil da boneca.
(e lá se foi sua pureza, levando consigo um tanto da sua esperança)

Um dia a menina se perdeu no tempo, e largou a boneca, esquecida num canto mofado do quarto. Neste dia, a boneca teve que escolher: ou ela era deixada de lado, com suas incertezas; ou ela crescia, como deveria acontecer com aquela menina dona de seu corpo, um corpo que já dava sinais de mudança: denotava uma sinuosidade crescente.
(as suas curvas de mulher, cada dia mais aparentes)

A boneca...ela não escolheu. Então ficou assim, peça desencaixada no mundo, tocada pelo mal de Iroquês. Uma boneca mecanizada, fruto da modernidade. Mas sem manual (ou talvez ele apenas esteja em outra língua, uma língua inventada, sem tradução possível).

Uma boneca que perdeu o direito de viver a natureza intocada do 'ser-boneca', do 'pra sempre faz-de-conta', do eterno 'era uma vez'.

Uma ex-boneca, fugindo do dever de ser um futuro alguém, que a essa altura já deveria ter uma família, um emprego com salário no final do mês, uma casa com três carros na garagem, mesmo que isso lhe custasse o nome sujo no SPC.

Um ser humano registrado, carimbado, inserido na sociedade (se quiser voaaaar).

Uma pessoa que, como todas as outras, paga seus impostos - ou não - tem ceia no natal, faz brinde no reveillon e se liberta no carnaval.
(sempre haverá uma quarta-feira de cinzas para a nossa redenção)

Alguém que chore com filmes tristes, que ria vendo comédias, que durma na sessão da tarde. Assim, simples, tão simples, não? Todo mundo faz.

Mas para ela... algo aconteceu. Talvez uma árvore tenha caído no meio da estrada de tijolos amarelos, durante a última tempestade.

E aquela que vivia em sua hermeticamente segura vida de boneca, é hoje um espectro de boneca, uma sombra platônica, que talvez nem seja o que parece. Ela é uma quase-humana. Ela caminha, cambaleante, pra um futuro às escuras, um 'blind date' inevitável com ela mesma.

Pensando bem, a que um dia foi boneca, não é quase-humana, não é sub-humana (não somos, Freud Flinstone querido).

Ela é humana, humana demais. E talvez isso explique o fato de ela ser assim: covarde.

Então ela aceita, e segue. Segue uma vida protocolada e cinza, com seu sorriso amarelo e seu vestido preto.

Mas só até que uma borboleta voando, uma criança sorrindo ou o olhar querido do seu amor... a libertem, por mais um instante, da dureza da vida adulta.

Thursday, October 19, 2006

Leitura comentada 2


Ela lê Vogue, e sabe tudo de moda.
Eu leio Superinteressante, e vejo que não sei quase nada sobre a vida.

Leitura Comentada 3

Ele lê o Estadão, do começo ao fim.
Eu leio só o Caderno 2.

Leitura Comentada 4

Ele lê qualquer coisa.
E eu leio depois, porque tudo o que o Léo lê é interessante.

Leitura Comentada 5

Ela lê Caras (e me conta as últimas).
Eu leio Bundas (e vivo fazendo piadas pra ela).

Leitura comentada 6


Ela lê o gibi da Turma da Mônica.
Eu... também.

Tuesday, October 03, 2006

Fim de semana na praia

Tem chuva batendo na janela,
E sol brilhando nos sorrisos.
Tem piada, hihi hoho na necessaire de remédios, tem dedo na sopa (ufa), tem um vuco vuco danado.
Tem edredom espalhado, tem banheiro disputado.
Tem loiruda, gostosona e mãeozona que faz massagem (pede pra Pri).
Tem um lutador de jiu-jitsu mais pra Shrek do que pra pitboy, que faz molecagem (pede pro Binho).
Tem creme, shampoo e condicionador (pede pra Aline).
Tem suco, coca-cola, e guaraná - pra mim.
Tem cerveja e batidas mil para todos (pede pro Marcelo).
Tem músicas velhas com versões inéditas e totalmente sem sentido (pede pra primutcha).
Tem gente com apelido de Banga, e que de repente vira Manga, Monga, Conga, Bonga, Bingo e toda a sorte de derivados, mas tem que ter autorização do ser apelidado (pede pro Guilherme).
Tem até o "cara chato" que te acorda domingo de manhã (pede pro Glauco).
E tem eu. Tem eu feliz da vida. tem eu pensando que "isso que é vida".
E a viagem acaba, com o quarteto fantástico, com uma garoa chata, pés na areia, água gelada do mar molhando nossos pés (e um tanto da nossa roupa).
E a gente cantando:
"Abra suas asas...solte suas feras...caia na gandaia...entre nessa festaaaa"
(Parece cena final de filme nacional...e era quase isso).

Wednesday, September 27, 2006

Pequenas coisas


Um grão, uma gota.

Um sorriso, uma lágrima.

O primeiro passo, o último suspiro.

Aquele beijo, um até breve (e que seja bem breve).

Tudo começa e termina com um pequeno gesto.

Humberto Gessinger por ele mesmo

"Segundo um astrólogo amigo meu, nasci muito velho. Em São Paulo, torço para o time que estiver perdendo. Católico relapso, não sei se há vida em outros planetas. Pra ser sincero, acho que não faz a menor diferença. Mal conheço meu vizinho de porta, imagina ter que lidar com homenzinhos verdes...Gosto de Underborg, prefiro Elvis gordo em Las Vegas do que antes do serviço militar e acho que Zé Ramalho canta melhor que Ed Motta. Passo madrugadas de insônia ouvindo conversa em rádio AM e acho ler mais fácil e divertido do que ir ao cinema. Concordo com o filósofo Gil Lopes que diz que o melhor está por vir. Meus dois maiores sonhos são : aprender a nadar e ser politicamente correto. Um dia chego lá! Fora isso, sou inteiramente normal."
(Humberto Gessinger)

Thursday, September 21, 2006

Sobre a existência humana

Caiu na minha mão (na verdade, caiu na minha cabeça quando eu arrumava a estante de livros) um livro que há alguns anos dei para minha mãe (e tenho a ligeira impressão de que o livro está imóvel na estante desde aquele dia): "A razão da existência humana", de L.A. DoValle. Um título pretencioso, mas bah, eu sempre fui chegada em pessoas arrogantes (porque de gente em cima do muro, basta eu).
Estou quase no fim, e para ser coerente com minha natureza "mais ou menos/qualquer um tá bom/ dá o que tiver" eu ainda não sei dizer se estou gostando. Eu leio, concordo, discordo e na maioria das vezes, não acho nada sobre o assunto. Minha religião é a ignorância total dos por quês divinos (leia-se: agnóstica). Têm coisas que SÃO. E isso é tão maior do que perguntar POR QUE O SÃO? Estou aí. Aberta para o que tiver que saber. Mas até hoje....nada sei sobre a razão da existência humana. O livro diz algumas coisas que eu até já achava, de certa forma. Mas ele não fala em carma, evolução, aprendizado, não com essas palavras. Ele quer, a toda prova...provar algo (uma necessidade humana, que entendo, mas não compreendo). Para isso lança mão de testes, pesquisas, recorre até a pirâmide do bom e velho Maslow (e eu lembro do querido Igor contando a historinha sobre a troca das necessidades básicas na vida de Einstein).
DoValle afirma que a vida material (não puramente espiritual) é um estágio do espírito na forma humana, pois somente vivendo num corpo passaremos por fome, sede, frio. E para saciar essas necessidades básicas: trabalhamos. Trabalho no sentido amplo da palavra, não fala do emprego, e sim do ESFORÇO. Para o autor, nossos espíritos não têm esse ímpeto de crescer, evoluir, obter mais conhecimentos por puro prazer. Então, em matéria, nosso corpo nos "impele" a conseguir.
O livro é certamente cheio de superficialidades. E, embora tente fugir de clichês (com frases irônicas e bem sacadas, em alguns momentos), no fim das contas, é apenas um livro pretencioso que se propõe a mudar sua vida (leia-se: auto-ajuda disfarçado de teoria científica). Acaba por trazer velhos ensinamentos e conceitos que minha avó já usava.
Mas, há sempre o que aprender. Como diz o autor numa passagem (vou escrever com as minhas palavras, já aviso):
"Eu nunca me perguntei de que me servia saber tal coisa. A pergunta certa é: de que me servia, antes, não saber sobre isso?"
E eu, como devoradora de livros, revistas, artigos, bula de remédio, parte de trás do vidro de shampoo ou tudo que tenha palavrinhas...escolho o saber. O saber doloroso, o saber inútil, o saber leve, não importa. O saber, sempre (se não for um aprendizado, é um exercício de paciência).

Das Definições

Defina quem você é:

Eu: Sou alguém que (definitivamente) nunca conseguirá definir uma coisa dessas.

***E, como diria Naty gauchinha, persona mui grata: Rótulos? Rótulos são para geléias!

Wednesday, September 20, 2006

One Man Band (Pixar)

Vídeo de animação que passa antes de começar "Cars". Divirtam-se!

Sunday, September 17, 2006

O dia em que o mundo parou. Eu não estava lá...mas eu vi.

Onze de setembro. Data auto-explicativa. Data com contexto imbutido. A data passou, mas a Mila estava tão nas nuvens que não lembrou de comentar. Assisti horas de docmumentários na tv, por vezes me emocionei, por outras fiquei com raiva pela importância dada a um fato único na América diante de atos similares que acontecem quase que diariamente lá na terrinha (e o sangue é forte, se enfurece). Mas, tá. Não serei eu a falar sobre o 11 de setembro. Deixa pro Robert de Niro, a voz dele é tão mais bonita. Eu comento ao meu modo: citando alguém. E cito ao meu modo: Humberto Gessinger, pra variar.

Beijos Pra Torcida
(Engenheiros do Hawaii)

Quando eu abro a janela
Quando eu abro o jornal
Eu vejo a cara dela:
A terceira guerra mundial

Jogam bombas em Nova Iorque
Jogam bombas em Moscou
Como se jogassem beijos pra torcida
Depois de marcar um gol

Falam tanto sobre guerra e paz
Mas tanto faz falar ou não
Todas as bombas e os generais
São restos mortais da civilização

Rebeldes sem rebeldia
Viciados em anestesia
Fantasmas sem fantasia
Gripados da guerra fria

Pão e circo, que pé no saco
Quem não fica frio, fica fraco
Procuro entender qual é a desses caras
Procuro um cigarro no bolso do casaco

Mas em todo lugar, um pedaço do fim
Um furo de bala, um muro de Berlim
Muito sangue sai da tela do drive-in:
Um filme de guerra, um filme sem fim

(***Sim, mais uma música antiguinha e completamente atual).

Friday, September 15, 2006

Coração Absurdo

(Itamar Assumpção)

O meu coração é um absurdo
Bate forte, bate fraco
Bate surdo mudo
Bate por nada, bate em vão
Bate por tudo
Bate pouco, bate muito
Bate por ti sobre tudo

My heart beat strong
Beat ping pong
Beat beat, beat weak
Beat deaf and dumb
Beat for nothing, beat alone
Beat and jump
Beat little beat more
In the middle of this dump

Meine herz schlägt
Stark schlägt tun tun tun
Fein takt takt takt
Hat einem grund
Schlägt für dich
Schlägt für sich
Sein klang ist dumpf dumpf
Macht takt takt takt
In der nitte von der sumpf

Thursday, September 14, 2006

Your true colors are beautiful like a rainbow


Linda campanha da Dove, tocante. Divido com vocês...a real beleza vai muito além do espelho.

True Colors
Cyndi Lauper

You with the sad eyes
Don't be discouraged
Oh I realize
It's hard to take courage
In a world full of people
You can lose sight of it all
And the darkness inside you
Can make you feel so small

But I see your true colors
Shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors
True colors are beautiful,
Like a rainbow

Show me a smile then,
Don't be unhappy, can't remember
When I last saw you laughing
If this world makes you crazy
And you've taken all you can bear
You call me up
Because you know I'll be there

And I see your true colors
Shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors
True colors are beautiful,
Like a rainbow

I can't remember
When I last saw you laughing
If this world makes you crazy
And you've taken all you can bear
You call me up
Because you know I'll be there

And I see your true colors
Shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors, true colors
True colors are shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors
True colors are beautiful,
Like a rainbow

Tuesday, September 05, 2006

Lugares Proibidos

(Helena Elis)

Eu gosto do claro, quando é claro que você me ama
Eu gosto do escuro, no escuro com você na cama
Eu gosto do não, se você diz não viver sem mim
Eu gosto de tudo, tudo que traz você aqui
Eu gosto do nada, nada que te leve para longe
Eu amo a demora, sempre que o nosso beijo é longo
Adoro a pressa, quando sinto sua pressa em vir me amar
Venero a saudade, quando ela está pra terminar
Baby, com você chegando já, já

Mande um buquê de rosas, rosa ou salmão
Versos e beijos e o seu nome no cartão
Me leve café na cama amanhã
Eu finjo que não esperava
Gosto de fazer amor fora de hora
Lugares proibidos com você na estrada
Adoro surpresas sem data
Chega mais cedo amor
Eu finjo que não esperava

Eu gosto da falta, quando falta mais juízo em nós
E de telefone, se do outro lado é a sua voz
Adoro a pressa quando sinto sua pressa em vir me amar
Venero a saudade quando ela está pra terminar
Baby...com você chegando já

Wednesday, August 30, 2006

A auto-piada (porque precisamos rir de nós mesmos)

Já estão anunciando o jogo do ano...

O clássico dos rebaixados!!!

Com apenas uma partida, histórica:

Corinthians versus Plutão!!!

(Tá, péssimo, mas os meus amigos queridos e não-corintianos rirão, certeza)

Tuesday, August 29, 2006

Utilidade Pública (para o bem da humanidade)

...(ao menos a porção da humanidade que veste saias)

Uma conhecida minha, que chamarei de um nome qualquer, daqueles que se ouvem aos montes por aí, no mercado, na rua, dentro de casa (e vira pra ver se é com você...raramente é) ok, chamarei de Camila, por exemplo. Camila tem um querido amigo (chamaremos pelo nome fictício de Diogo) que perante sérias pesquisas com mulheres de várias idades, crenças e nacionalidades, constatou que a grande maioria gosta muito de sexo e de chocolate. E que, na ausência do primeiro, as mulheres multiplicam o consumo do segundo. A partir de tal constatação, Diogo resolveu criar o revolucionário vibrador de chocolate, o que exterminaria a carência feminina, intensificaria seu prazer, e faria com que sua felicidade estivesse acessível por uma módica quantia, em qualquer sex-shop e até na Kopenhagem. Mas a confecção de tal instrumento multifuncional (uma das funções seria combater o stress), recentemente teve que ser interrompida (ahhh), por uma questão puramente física: o pesquisador não encontrou uma maneira para que o aparelho, ao ser utilizado, não transmutasse do estado de vibrador para foundue de chocolate.
A amiga, solícita (e levemente interessada no assunto) tentou ajudar o inventor, entrou em contato com fontes confiáveis, Doutor Dráuzio Varella, entidades internacionais como Madonna e Sue Johanson. E, numa medida desesperada, foi na fábrica da M&M´s. Procurou também o coelhinho da páscoa, mas só conseguiu falar com seu empresário. Nada conseguiu.
Como derradeia tentativa, pediu para que eu documentasse o caso neste espaço chocólatra, dentro da world wide web.

Amigos, alguma sugestão? Aguardamos resposta (Camila, Diogo, eu...e quase todas as mulheres deste planeta agradecemos, desde já, a sua atenção).

PS: A opção de comercializar o produto para mulheres frígidas foi descartada, já que tais mulheres não demonstraram interesse na aquisição do milagroso aparelho, alegando que não são chegadas em chocolate (e menos ainda em sexo).

Eu sou egoísta

..."Se o que você quer em sua vida é só paz
Muitas doçuras, seu nome em cartaz
E fica arretado se o açúcar demora
você chora, você reza, você pede, implora
Enquanto eu provo sempre o vinagre e o vinho
Eu quero é ter tentação no caminho
Pois o homem é o exercício que faz
Eu sei que o mais puro gosto do mel
É apenas defeito do fel
E que a guerra é produto da paz
O que eu como a prato pleno
Bem pode ser o seu veneno
Mas como você vai saber... sem provar?
Se você acha o que eu digo fascista
Mista, simplista ou anti-socialista
Eu admito, você tá na pista
Eu sou ego, eu sou ista
Eu sou ego, eu sou ista
Eu sou egoísta, por que não?"
(Raul Seixas)

Friday, August 25, 2006

O dia seguinte ao adiamento.

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma... Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,

Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro.
(Adiamento, Álvaro de Campos)

Mas só amanhã...hoje não farei nada, só planos.

Ontem foi daqueles dias. Não diria que tenha sido ruim, definitivamente não houve nada, nadinha, absolutamente nada, e assim sendo não podemos computá-lo como um dia catastrófico. Mas um dia concha, aquele dia que acontece para todos, de tempos em tempos (e quando a pessoa, assim como eu, tem dom para personalidade-concha, esses intervalos são menores, os dias conchas vêm com mais frequência. E então, começou minha peregrinação (pois, não se enganem com a quietude externa, dias assim urram, doem).

A primeira fase é dormir. Muito. Dormir até não poder mais, até que seus olhos implorem para você deixá-los um pouco abertos, vivos para a luz do dia (luz que grita brilhante: Eu existo! De nada me valem suas cortinas de pano grosso, que teimam em se fechar). Depois de uns cinco pesadelos seguidos, entendi a mensagem, e atendo aos apelos do meu corpo, do meu subconsciente, da minha cortina de pano grosso, cansada do escuro, do sol-guerreiro, com sua luz deliberadamente indelével, enextinguível. Levanto.

Segunda fase. A revolução. Desligo os telefones, meu contato com o mundo externo. Não, não adiantaria fugir.
Notícias nos acham, em qualquer canto-concha que tentemos nos enfiar. Religo o
celular. E peço, amável, que ele não me traga notícias, por hoje.

Terceira fase. Arrumar a bagunça. Da casa, do quarto, do subsolo (o meu subsolo, minha mente confusa). Aos poucos. Começo pelo armário, o coitado guarda, silenciosamente, tantos objetos truncantes. Sim, daqueles que servem de modelo perfeito para "tinha uma pedra no meio do caminho". As pedras que marcaram meus medos, minhas angústias. Objetos pelos quais eu guardo sentimento, nutro afeição. Pra quê? Sentimentos por coisas atravancam os sentimentos por pessoas. Eternizar momentos? Na memória só. Roupas antigas, maquiagens vencidas (eu já havia me livrado das calcinhas desbotadas e das meias furadas no calcanhar no quando da visita
anterior a essa do dia-concha).

Quarta fase. O resto da tarde me cuidando. Comida saudável, abdominais, flexões de perna, pesinhos leves nos braços, que tenho horror àqueles músculos definidos.

Quinta fase. Começo da noite, embelezamento externo para ver se muda algo por dentro: máscara facial, tratamento intensivo para os cabelos, calmante para as - cada dia mais visíveis - olheiras. Unhas, depilação, coisa de mulherzinha. Uma bela escova.

Sexta fase. Pronto. Linda. Refeita. Uma ligação: "Vambora pro samba?" Não, hoje não.
Hoje termino como acordei: CONCHA (superstição boba, fechar o ciclo).

Sétima fase. Pensar. Repensar. Elaborar.
"Se hoje não fiz nada, amanhã, quem sabe, só para variar?" pensei. Hora de ativar a lixeirinha mental. Coleta seletiva, que manda sentimentos bons para o coração, para a memória de elefante que eu insisto em ter. E que manda os sentimentos "pedra no caminho" lá para o
rim. Me entupo de água, para o quanto antes eliminá-los - os sentimentos ruins presentes nos rins - na primeira ida ao banheiro. Deixar lá aquele amarelado do rosto, da alma (e então eu rio, lembro de amigos queridos, e volto a me sentir leve). Quieta. Subsolo em lento processamento de dados (anoto: abrir mais espaço no dísco rígido). Seleciono o que vai, o que fica.

Fase final. Quarto, reclusão. Um tanto de música boa, outro tanto de leitura interessante. Olho para o teto. O meu amor continua lá, como nas noites anteriores. Me esperando, como ele é paciente! A visão de pessoa tão querida me deixa calma, relaxada. Meus olhos, que antes imploravam para ver o mundo, pesam dois sacos de areia nas minhas pálpebras. Meu último pensamento: "Amanhã, sem falta". E durmo.

Monday, August 21, 2006

Quase Nada

(Zeca Baleiro)

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei

Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso

Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei

Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso

Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada...

OS BRASILEIROS

"Dois em cada três brasileiros já fumaram maconha. Três em cada cinco brasileiros acreditam em Deus. Cinco em cada oito brasileiros morderam a hóstia durante a comunhão. Oito em cada treze brasileiros preferem sexo anal. Treze em cada dezessete brasileiros habilitados pensaram em jogar um carro no poste só pra ver o que acontece. Dezessete em cada vinte brasileiros não sabem que o Homem da terra de Marlboro é um ator. Vinte em cada vinte e dois brasileiros não têm terra. Vinte e dois em cada vinte e três brasileiros têm certeza que seu azar é específico."

(Tirado de "15 cenas de descobrimento de Brasis", de Fernando Bonassi. Essa é a décima quarta cena, perdendo só para "O fim"). Fim.

Thursday, August 17, 2006

Me empresta um romance?

Eu sei bem que as versões brasileiras de Tom e Meg já existem. Sei que ele tem cabelos listrados e sorriso de ter fé na humanidade. Sei que ela tem cara de menina boazinha e olhos verde musgo.
Sei que eles moram no sul deste país, num lugar em que "almamente" sempre estive (era só dobrar a esquina e lá estaria a Redenção e seus lugares secretos, seus vendedores de algodão-doce, suas árvores frondosas.E, se eu desistisse do ônibus, eu andaria por aquela rua que tem um caminho feito pelas folhas de ipês amarelos. E, mais para frente, sentiria o cheiro das
bergamotas invadindo o ar).

Mas hoje...só hoje.
Será que eu posso roubar esse amor colorido a la Tom e Meg pra mim? E perguntar para alguém muito especial (pois só pessoas especiais merecem um amor desses):

- Você gostaria de sair, tomar um suco, ir ao cinema...pelo resto das nossas vidas?

A nova teoria do caos (Ou sobre como o mundo atingiu a paz)



Nagoya, num dia qualquer, sem importância (até então), 11h 42min 05seg:
Uma borboleta colorida levanta vôo, sutilmente, ignorante de sua vida efêmera.

São Paulo, nesse mesmo dia qualquer, 23h 42min 06seg (porque textos fictícios também têm delay):
Eu sinto sono, e dou uma piscada mais longa do que o habitual.

Pronto. Esqueçam a bomba atômica. Bin Laden, George Bush. Não vai nem dar tempo de falar Condoleezza Rice. Terremotos, maremotos, cataclismas. Nada é páreo.
Esses dois fatos, um em cada canto do mundo...aniquilarão a raça humana do planeta Terra. Ou farão com que as pessoas, definitivamente, sejam mais doces, sutis, carinhosas, leves (como um bater de asas, como um piscar de olhos).

*Ainda não decidi se fico com o final trágico ou o meiguinho. E então, a história fica assim,
inacabada. E, por via das dúvidas,me deixem dormir em paz.

Título alternativo, parte 2: "Sobre como é importante deixar a Camila dormir quando tem sono"

Monday, August 14, 2006

Como se fosse balanço

Lá se foi a primeira metade do ano, e já estamos folgados na segunda metade. Agosto continua o quê? Julho deu para balanço? Você fez alguma coisa do que planejava fazer neste ano? Claro que não. Fez, no máximo, aquilo que deixaram ou quiseram que você fizesse. Sempre assim, e você já devia estar habituado. Como, aliás, está. Ou não?
Por favor, não me venha com essa cara de inconformado de nascença. Já é do seu conhecimento, há muitas centenas de meses, que lhe cabe assistir a um espetáculo de que você, ao mesmo tempo, é comparsa mínimo. Espectador dos outros e de si mesmo: curiosa situação, né? A de tanta gente. Nem exceção você é. Não se envaideça. Não se melancolize.
É isso aí: dão-lhe o direito de fazer planos. Reservam-lhe, até, quadra especial para isso. Não assumem, porém, o compromisso de deixar que você os execute. Mas podia ser de outro modo? Pense na barafunda que resultaria da realização simultânea (e conflitante) de todos os planos individuais. Cada um com seu esquema, sua quimera: a explosão disso tudo, hem? Se preferir, bote a culpa nas estruturas e infra-estruturas, nos sistemas, no acaso, na sorte, em Deus. Poderes que impedem você de poder. Que podem por você.
Aí está uma confortadora transferência de responsabilidade. Deixassem você solto, agindo, era
aquela beleza. Vertigem boa: pensar em possíveis e impossíveis. No fundo, meu prezado, você tem é vocação para Deus. Mas o lugar está preenchido. À vista da frustração, só lhe resta ser um de seus (in)fiéis.Mas assim como é dificílimo ser Deus, não é nada maneiro submeter-se à sua
jurisdição. O código de proibições e obediências estica-se por mil volumes. A vida inteira não dá para a leitura. E a letra é tão miudinha! Em casa, na rua, no hospital, no espaço, em pensamento, você está sempre obedecendo a um parágrafo visível ou implícito. Ou o transgredindo. O sinal luminoso do cruzamento é muito mais do que sinal luminoso:Ç é sentença de morte, caso você não lhe dê a atenção exigida. Ou mesmo dando. O menor carimbo pressupõe regras invioláveis de conduta. O jogo da vida consiste, em parte, no estudo de como violá-las, simulando
reverência.
Você esperneia, revolta-se - adianta? Mesmo sua revolta foi protocolada. O caso da maçã estava previsto. A serpente estava prevista. Prevista, a expulsão do Paraíso. A lição de alguns autores é
que o Paraíso foi criado exatamente para o homem experimentar-lhe a privação. Da qual resultariam invenções, técnicas de compensação, poemas, sinfonias. Mas há também quem ache isso fábula de amor cinzento, descambando para o negro.
Acomodar-se, então, seria a receita? A razão estará com a minoria selecionada dos quietistas?Ou o caminho que eles encontraram é demasiado simplório para ser um caminho, e, em vez de conduzir à solução, gira em redor do problema, acentuando a insolubilidade?
Devaneios. Como você devaneia, irmão! Quer ser e não ser, sendo. Imagina o vazio, com a sua pessoinha lá dentro, escondida, resguardada, a se divertir com a imperícia dos outros, que vão aos trambolhões, expostos a chuva, granizo, fogo.
Como se você também não participasse desse existir precário, de que só algumas ressonâncias chegam à publicidade, em situações-limite.Existir que, por ser universal, tem força de regra,
torna-se normalidade.Escusa de dar balanço, ou antes, balancete, nesta parte carcomida do ano. Os erros são justificáveis, de uma forma ou de outra. É, não deu.
Os acertos, porque involuntários, o são menos. Não dependeram de você, confesse. De certo, que foi que dependeu de você: as marés, o câmbio, o desencontro das nações,a briga dos namorados, o amor revelado, a distenção, a enchente, a qualidade da vida?
Pense em outra coisa. Não impede que você reelabore planos para o restante do ano e até para o ano que vem. Esporte como outro qualquer.

Experimente agosto. Voltam as aulas, os horários. Experimente (sempre) viver.

Carlos Drummond de Andrade
(E Ton..obrigada pelo livro lindo, sobre os dias lindos e outras cositas mas).

Thursday, August 10, 2006

Faz de conta


Faz de conta que ela era uma princesa azul pelo crepúsculo que viria, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que sangue escarlate não estava em silêncio branco escorrendo e que ela não estivesse pálida de morte, estava pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz-de-conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz-de-conta verde cintilante de olhos que vêem, faz de conta que ela amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus, faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que era sábia o bastante para desfazer os nós de marinheiros que lhe atavam os pulsos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua, faz de conta que ela fechasse os olhos e os seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos da gratidão mais límpida, faz de conta que tudo o que tinha não era de faz-de-conta, faz de conta que se descontraíra o peito e a luz dourada a guiava pela floresta de açudes e tranqüilidade, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando.

Clarice Lispector

Amélie e Nino


E quer amor mais lindo? Quem ainda não assistiu "O fabuloso Destino de Amélie Poulain", corre. E para ter um gostinho, assista a essa amostra youtubística da menina que ama os pequenos prazeres da vida...e comece o dia mais leve!

Wednesday, August 09, 2006

Parados na estação das flores na alma (Sobre o começo do amor)

E tudo teria início no outono, onde o vento nos sopraria para um lugar só nosso, com um relógio de ponteiros infinitos, alheio ao mundo e sua pressa.

Com o frio do inverno, meu abraço te esquentaria mais do que cinco agasalhos e dois cobertores Parahyba (e sem eles, nunca mais nos atacaria a rinite).

Quando chegasse a primevera, eu seria a tua flor, a única do teu planeta feliz. Te lançaria um olhar convidativo, para que desses um cheiro aqui, no pescoço. Tu tratarias logo de abrir todos os botões que escondem meu peito nú, e me chamaria de "teu lar".

E no verão. No verão eu assopraria tua nuca para espantar o calor. Se não adiantasse, deixaria que derretesses na concha das minhas mãos. E se começasse a escorrer por entre os dedos, eu te beberia, de canudinho.

*E assim, com você sendo parte de mim, passaria o resto da vida. A inventar novas estações, a reinventar um amor (que desabrocha agora).

Friday, August 04, 2006

That's Mila

Nem isso, nem aquilo
Quase isso, quase aquilo
Às vezes isso, às vezes aquilo
Um pouco disso, um pouco daquilo
Tudo isso, tudo aquilo
That's me
(that's Mila).

Wednesday, August 02, 2006

Ah, vocês dois...

Você saiu sem olhar para trás.
Ela bateu a porta e passou a chave no coração.
E isso foi há um século, parece, vocês dois mudaram tanto.

E ela que jurava não te querer nunca mais. E ela que tinha nojo, tinha raiva, tinha pena da sua pequeneza, menino tacanho.
E ela que desdenhava por tanto desejar desmedidamente.
Depois relevou, repensou, de que valia tanta raiva, tanto desprezo fingido, ela que tanto te admira, e enfim, que mal havia? Amigos, então.

Mas agora essa...

Desejo do tipo bandido que cola na gente, pede pra ficar quieta e ir andando, e ela vai indo, nem se importa se corre perigo. Desejo de ser pega pela cintura e então revelar logo qualquer segredo universal. Ainda bem que ela não é da maçonaria, acho que é por isso que não permitem mulheres lá. Eu sei porque sou mulher. E é só um carinhozinho despretencioso e pronto, é lindo, é meigo, é fofo, é o amor da nossa vida.

Mas amor, ali, não.

É um desejo profundo.
Uma amargura que quanto mais perto chega, mais doce parece, sensação agridoce.
Um carinho intenso, mãos firmes, porém - quase nunca - rudes.
E quando o são, são apenas de tanto o peito feminino e arfante implorar por fortaleza.
Uma dureza de pedra.
Mas lábios que beijam com língua de flores.
Pétalas macias de sabor suave.
E o olhar forte, cortante, duas facas apontadas para aqueles olhos de menina perdida.
E o sono leve, como pluma flutuante no seu pensamento, alisando seus cabelos vezenquando.

E a vontade inesgotável.
E o desejo incessante.
Daquela mistura de movimentos sutis e bruscos.
A alternância entre beijos longos e efêmeros.

E o medo.
O medo de nunca saber qual o próximo passo dessa valsa às escuras, maldita.
E de nunca saber a quantos passos já estarão do abismo, do fim.
Pois o escuro cega.
Mas a claridade nos dá, em alguns momentos, uma cegueira branca a la Saramago, uma ilusão de ótica, paixonite aguda (e definitivamente idiota).

Tuesday, August 01, 2006

Feels like home



Safe... when I'm with you I feel so safe... like I'm home.

(Garden State - Hora de Voltar)

O que o dinheiro não compra

Dinheiro compra batom escarlate, mas não paga aquele sorriso escancarado;

Dinheiro compra carro com vidro automático, mas não paga o vento batendo no rosto;

Dinheiro compra violão, mas não compra a voz do Danilo cantando Chico, sempre Chico;

Dinheiro compra a gasolina para nos levar até a "Praça do Pôr-do-Sol", mas não paga o sol que lá se põe, e mareja os olhos.

Para a rua me levar

E em três dias de incursões líricas, poéticas, lúdicas, fílmicas, harmônicas, gustativas, dramáticas...3 dias que foram quase que totalmente noites, de puro êxtase, imagens, gostos, cheiros. E som, muito som (um pouco de fúria, claro). Em meio a tantas coisas lindas, inesquecíveis, uma citação, apenas uma citação:

Depois de doze anos sem olhar pra cara, sem ter notícia...e na mesma semana em que fui "provocada" pelo meu amigo Zé a escrever a minha versão de "futebol x amor x outra coisa"...

Eis que na sexta-feira me deparo com o tal menino do texto, aquele que ficou para trás, enquanto eu corria atrás da bola...simbolizando todos os que viriam, seriam mais, muito mais do que colegas de classe, e ainda assim ficariam pelo caminho.

Na lanchonete do Acácio, um ícone do Tatuapé...Leandro.
Ele e a esposa.
Estavam saindo, provavelmente indo para casa, curtir um friozinho debaixo das cobertas.
Eu, chegando, um lanche rápido antes de uma noite que acabaria no sábado às 9 da manhã, tocando violão com recém-velhos-amigos, numa praça qualquer, dançando na rua de asfalto e garoa que por um instante parecia ser só minha. E dessa vez...a rua me levou (e não me deixou para trás).

Wednesday, July 26, 2006

Como a ti mesmo...

Nos relacionamentos passados, a menina sempre foi vencida.

Primeiro venceu a curiosidade de outros braços, mais doces, para seus abraços. Depois o amor fraternal venceu. Teve também a distância. A hesitação. A frieza. A imaturidade. A falta de vontade. E, enfim, o pó (o pó que ele usou, o pó em que ela se tornou).

E então.
E então a menina decidiu começar, ou ao menos tentar, se relacionar antes com ela, depois com os outros.
"E - ela pensou - se devemos realmente amar o próximo como a nós mesmos...como vou amar alguém se me trato assim, tão mal?"

Monday, July 24, 2006

O Quereres

(Caetano Veloso)

Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão
E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão

Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco, garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês

Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre: decassílabo, e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói, e onde queres tortura, mansidão
Onde queres o lar, revolução, e onde queres bandido eu sou o herói

Eu queria querer-te e amar o amor, construírmos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és

Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'n'roll
Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inseticídeo
E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim

Saturday, July 22, 2006

Porque amor e futebol não podem ser discutidos, mas podem ser comentados!

Futebol x Amor x Outra Vez
(por Zezones)

Lá vai outra vez o garoto tentar jogar bola. Anos Parado.
Não é tão novo assim, mas devido a sérias contusões resolveu se abster do vício.

No tempo em que ficou machucado em casa pensou muito. Começou a comer demais, ansioso comia um catatau de doces vendo os times jogando. Não tinha nehum favorito e sim vários clubes do peito. Ver o desenrolar do jogo já lhe bastava. Sentava e acompanhava, como um Falcão desses da vida, sendo critico e objetivo.

As vezes que entrou num campo foi só para reconhecer o gramado, dar uns chutes da marca do penalti e incrivelmente mesmo sem o goleiro era dificil acertar uma bola dentro das traves. As dores, ou "acidente de percurso" como os médicos falaram para ele, continuavam lá. Bastava um piquezinho para alcançar o onibus e o coração quase lhe saltava pela boca.

E hoje, depois de um churrasco dos amigos alguém gritou:- Jota! Dá para completar o time?
Já tinham chamado umas vezes e sempre ele mostrou as marcas da cirurgia. Eu, esse mero observador nunca tinha visto isso. Jota não pensou, tirou a camisa para jogar nos sem camisa, a barriguinha branca ficou a vista. A posição é de lateral direito. O juiz, que já conhecia sua história, fitou-o, perguntou se queria mesmo fazer aquilo, ele deu o sinal de positivo com a cabeça e a partida começou.

Vou embora antes de ver o garoto se machucar lá de novo.

Zé é; comentarista de futebol durante a copa.

Futebol x Amor x Outra Vez
(por Camila)

Eu nunca joguei futebol, só na escola.
E era um jogo estranho, uma menina e um menino juntos, de mãos dadas, como se fossem um único jogador.

Essa imagem ficou na minha cabeça.Eu e um amigo, o Leandro. E sabe? Eu jogava até bem, mas ele não me acompanhava.E isso acabou ficando pra vida, pros relacionamentos. Como se fosse um aviso-piada de Deus, falando que tantas vezes eu tentaria levar alguém comigo, e essa pessoa se perderia pelo caminho.

Taí. Minha carreira no futebol começou e parou nessa brincadeira descontraída da aula de Educação Física.

Camila é; apenas comentarista, de futebol e do amor, desde então.

Thursday, July 20, 2006

Impressões de Verão




(por Camila Pereira)

Casa de praia
Sol entrando pela janela
Cheiro de grama molhada

Vestir minhas filhas com seus maiôs coloridos
E ir para o sol escaldante lá de fora
As meninas dando gritinhos de felicidade

Pés na areia
Brisa batendo no rosto
Sorvete de milho verde

Bronzeador pra mim
Protetor para as meninas

Guarda-sol, cadeira e esteira
Piscina com água doce, baldinho e pazinha

Areia
Muita areia...

Meninos bonitos,
Meninas nem tanto

Tiazinhas e avós
Passando de um lado para outro
Numa caminhada eterna

Frescobol
Futebol
Cerol

Vendedores ambulantes
"olha o óculos, canga, camarão, aaaaaaalgodão doooooce!!!!"

Meio dia,
Porção de porquinho
Coca-cola
E caipirinha

Paro...penso...saudades.

Por um momento parei de pensar...
Abri os olhos

Mar, ondas...ainda estou na praia
com muito sol e minhas filhas brincando juntas
Lindas...felizes...puras...saudáveis

E aquela sensação de que a melhor parte da minha vida
Na verdade começou agora.

O vão que fazem suas mãos é só porque...

(você não está comigo)

Sabe quando você usa um anel dia e noite, e quando tira sente aflição, pressiona o local com a ponta dos dedos para suprir a falta?

Ou quando você finalmente tira o aparelho fixo que usou por uns cinco anos, e não pára de passar a língua nos dentes?

Ou quando está sem seus óculos, mas instintivamente você o ajusta ao nariz (em vão) com o dedo indicador?

Sabe essa estranheza, esse vazio, essa falta?
É o que eu sinto quando não tem o seu abraço.

Wednesday, July 19, 2006

Chega uma hora...

em que é chegada a hora.

Hora de dizer adeus, tchau, até a próxima. E se cuida.

Hora de cuidar de mim, antes de tentar, toda cambaleante, cuidar de você.

Hora de tirar a minha parcela - imaginada - de culpa.

Hora de descobrir que a responsabilidade com você não é minha, é sua.

Hora de dizer boa sorte.

E...eu já falei adeus? Então pronto.

Monday, July 17, 2006

Refazendo

RE(CONSTRUÇÃO)

Separando cada pedacinho de mim
Para depois misturar na panela-vida
Um retrato confuso,
Com lugares invertidos
(Nem tanto)

O coração na boca
Olhos sorrindo
Sinceros, finalmente
No peito, uma canção
(Quase uma oração)

Nos ouvidos
Lábios pedindo
Um pouco
De silêncio
(Só um pouco)

RE(LIGIÃO)

Minha religião sou eu
E a ligação que preciso
(Re)tomar é comigo mesma.

RE(FLEXÃO)

Um espelho refletindo alguém
Que não sou eu
E minha verdadeira imagem
No fundo dos meus olhos
Suplicante

Pedindo para essa outra
Ir embora...que é chegada
A hora

A hora da verdade
A hora de descobrir
Que preciso de tantas pessoas

(Mas antes eu preciso saber quem sou)

RE(GRESSÃO)

Voltar
Ao que não tem volta

Pensar
Naquele passado

Passar
Novamente pelo passado

E seguir
Carregando um tanto

(Daquilo que nunca, na verdade, passará)

RE(TRIBUIÇÃO)

Hora de dar à vida
O que ela sempre
Tentou me dar:VIDA

(Segundo o Aurélio, definição número 7: Força, vitalidade)

RE(ORGANIZAÇÃO)

Parar
Ponderar
Calar mais
Falar menos

(E decidir para onde vou)

RE(VELAÇÃO)

Perceber que
Quando sou o que sou
Não sou certa
Não sou errada
Mas sou muito melhor

(Me encontrar, e só depois...me doar)

RE(VOLUÇÃO)

Deixar mesmo
O certo para lá
Me deleitar
No duvidoso, no instintivo

(No que é só meu)

RE(SPIRAÇÃO)

Inspira
Expira
Toma impulso
E vai

(E então...eu vou)

Friday, July 14, 2006

Um mergulho em busca de ar

Uma vez Remo Bellini (sim, o do livro do Tony Bellotto) disse que ouvir blues num domingo ensolarado é estar a um passo de cometer suicídio. Pois ontem era sábado à noite. E eu ouvia Ella Fitzgerald no escuro, cantando "Everytime you say goodbye", do Cole Porter. Acho que neste caso já estou com um pé para fora da janela. E começo a achar providencial que a janela do meu quarto tenha rede de proteção, aquela feita para "crianças". Aliás, outro fato interessante.

(Janeiro de 2006, um domingo perdido no final do mês, cinco minutos antes de eu arrancar a rede de proteção da minha janela... e sentir o vento no rosto, um vento que me libertou de toda aquela tristeza, e fez com que eu voasse para dentro de mim, e não para fora da janela. E sabe?Fiquei feliz. Pelo menos temporariamente)

Conviver com a saudade não é esquecer



"Você não sabe a companhia que uma lembrança pode fazer" (frase de 'Depois Daquele Baile', e roubada do blog da Ná).





Seis anos sem conseguir dar esse sorriso, absolutamente feliz. E nem parece tanto? Para mim pareceu, cada segundo. Em dobro. Em câmera lenta. E um mundo muito, mas muito sem graça.

Wednesday, July 12, 2006

You shone like the sun


Shine on you crazy Diamond
(Roger Waters e David Gilmour)

Remember when you were young?
You shone like the sun.
Shine on you crazy diamond
Now there's a look in your eyes,
like black holes in the sky.
Shine on you crazy diamond
You were caught on the crossfire
of childhood and stardom,
blown on the steel breeze
Come on you target for faraway laughter,
come on you stranger,
you legend, you martyr,and shine!

You reached for the secret too soon,
you cried for the moon!
Shine on you crazy diamond
Threatened by shadows at night,
and exposed in the light
Shine on you crazy diamond
Well, you wore out your welcome
with random precision,
rode on the steel breeze
Come on you raver, you seer of visions
come on you painter, you piper, you prisoner
and shine!

Nobody knows where you are,
how near or how far
Shine on you crazy diamond
Pile on many more layers
and I'll be joining you there
Shine on you crazy diamond
And we'll bask in the shadow
of yesterday's triumph,
and sail on the steel breeze
Come on you boy child,
you winner and loser,
come on you miner
for truth and delusion,
and shine!

Sid, brilhando. Agora, definitivamente, em outro lugar.

Tuesday, July 11, 2006

É tão lindo...





A Júlia assistindo "O Pequeno Urso", na tv cultura; O João Pedro me chamando de "tichi Cá"; O Enzo no meu colo (e aquela mãozinha gorducha dele segurando meu rosto) ; a Tauane cantando trezentas vezes por dia "alooo, galera de caubói, alooo galera de peão"; o Dedé assistindo Scooby Doo (olha minha escova, é do icubi!); A Giulia (não é Julia, é Ggggggiiiiiiiiiiuuuuuuuuulia!)
(meus ex-alunos, foto 1)

A Catarina desfilando pro espelho (afilhada do meu irmão, foto 2)

A Gabizinha imitando artista de novela (filha da Camila, foto 3)


Saudaaaaades dos meus pequenos.

(e me preparando para receber o primeiro sobrinho)

Monday, July 10, 2006

Inversão de valores



E se ontem eu achava que para ser feliz, eu precisava ser amada...
Hoje eu sei que para ser amada, eu preciso ser feliz!!!!

Tempo de fazer amigos

Saturday, July 08, 2006

Estou tentando...

Tentando me livrar do vício em chocolate, em novela das oito, em viver no mundo da lua;

Tentandpo agir para fora, tocar na vida, como sugeriu Pessoa;

Tentando parar, de uma vez por todas, de tentar.

Friday, July 07, 2006

I want to be alone




















GRETA WANTS TO BE ALONE

Dois ímpares bem unidos

Porque todo mundo merece um par.
E eu sou a felizarda no meio dessa multidão, a menina alegre que mereceu - e ganhou - para sempre:
Um ímpar.

E quem é mais sentimental que eu, o Vi, e los barbudos?

E meu bom dia, amigo...é para comemorar todos os motivos que me fizeram ir àquele show, que escreveu a primeira linha do nosso destino. Não era uma banda qualquer, era gram. Também não era setembro, era agosto. E você nem é minha mulher...hum...era um conhecido que foi amigo, que foi par, e que agora é isso que sempre será: meu ímpar.
Tchâmo um tantão maior que nossos narigões.


(Só para não ficar sem pé nem cabeça, Los Hermanos explicam:)

Bom Dia
Los Hermanos

Bom diaOlha as flores que eu trouxe pra você, amor
São pra comemorar aquele dia
Que passei a viver do teu lado
Eu me lembro, entre nós não havia quase nada
E agora é só você que me faz cantar
E é só você que me faz cantar...

Havia mil motivos pra eu não estar naquele show
Mas o nosso destino foi escrito
Sob o som de uma banda qualquer
Eu me lembro, em setembro conheci minha mulher

E agora é só você que me faz cantar
E é só você que me faz cantar...

06/07/2006