Você saiu sem olhar para trás.
Ela bateu a porta e passou a chave no coração.
E isso foi há um século, parece, vocês dois mudaram tanto.
E ela que jurava não te querer nunca mais. E ela que tinha nojo, tinha raiva, tinha pena da sua pequeneza, menino tacanho.
E ela que desdenhava por tanto desejar desmedidamente.
Depois relevou, repensou, de que valia tanta raiva, tanto desprezo fingido, ela que tanto te admira, e enfim, que mal havia? Amigos, então.
Mas agora essa...
Desejo do tipo bandido que cola na gente, pede pra ficar quieta e ir andando, e ela vai indo, nem se importa se corre perigo. Desejo de ser pega pela cintura e então revelar logo qualquer segredo universal. Ainda bem que ela não é da maçonaria, acho que é por isso que não permitem mulheres lá. Eu sei porque sou mulher. E é só um carinhozinho despretencioso e pronto, é lindo, é meigo, é fofo, é o amor da nossa vida.
Mas amor, ali, não.
É um desejo profundo.
Uma amargura que quanto mais perto chega, mais doce parece, sensação agridoce.
Um carinho intenso, mãos firmes, porém - quase nunca - rudes.
E quando o são, são apenas de tanto o peito feminino e arfante implorar por fortaleza.
Uma dureza de pedra.
Mas lábios que beijam com língua de flores.
Pétalas macias de sabor suave.
E o olhar forte, cortante, duas facas apontadas para aqueles olhos de menina perdida.
E o sono leve, como pluma flutuante no seu pensamento, alisando seus cabelos vezenquando.
E a vontade inesgotável.
E o desejo incessante.
Daquela mistura de movimentos sutis e bruscos.
A alternância entre beijos longos e efêmeros.
E o medo.
O medo de nunca saber qual o próximo passo dessa valsa às escuras, maldita.
E de nunca saber a quantos passos já estarão do abismo, do fim.
Pois o escuro cega.
Mas a claridade nos dá, em alguns momentos, uma cegueira branca a la Saramago, uma ilusão de ótica, paixonite aguda (e definitivamente idiota).
Wednesday, August 02, 2006
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