Friday, November 17, 2006

E a Engenharia Hawaiiana sempre vence...

Ontem estava fuçando nas velharias Enghaw que tenho lá em casa e achei um exemplar da saudosa Revista Zero, de 2003, que tinha uma das melhores entrevistas com Humberto Gessinger que já vi. E tendo meu irmão-exemplo dito que foi a melhor de todas, eu me sinto segura pra dizer que é realmente muito boa. Pensei em publicá-la aqui, mas ela é um tanto extensa e provavelmente ninguém a leria até o fim.
Bem, como desisti da entrevista, colocarei uma crônica do HG, que eles também publicaram, junto com a entrevista. E apesar de um pouco antiga, os amantes das boas letras, do bom futebol e do tricolor gaúcho...acredito que irão gostar:
Cai o Primeiro Zero do Placar
Quero fazer um gol num GreNal. De cabeça.
Para não ser muito rígido no meu pedido, aceito, como segunda opção, que seja num chute de fora da área. Mas faço questão que aconteça aos 38 do segundo tempo, numa tarde chuvosa, acabando com o zero-a-zero sofrido de um jogo truncado.Gostaria também que estivéssemos jogando com camisetas de mangas compridas, sem patrocínio, com números e distintivos bordados. Um rasgo na camisa suja de lama testemunharia a guerra que foi o jogo.

Os calções não seriam nem tão pequenos quanto os que se usava nos anos 80 e nem tão grandes quanto as bermudas dos anos 90. A bola seria de couro, com a costura aparente, aquelas usadas em mil novecentos e antigamente. Ainda não decidi com que número eu estaria jogando. Só sei que seria um número maior do que 11, pois eu entraria aos 35 do segundo tempo. Faltando 10 minutos para o fim do jogo, seu Ênio Andrade me chama...aquecimento...súmula...a torcida grita “Burro!” ...ninguém leva fé.

Eu poderia ser uma jovem promessa estreando no time ou um veterano em fim de carreira. Talvez eu estivesse voltando de uma lesão. Talvez todo o resto do plantel reserva tivesse passado mal depois de beber uma misteriosa água...
O fato é que entro em campo e formo, com meus companheiros, a fina flor tricolor. Danrlei e Yura guerreando... Alcindo revezando a centroavância com André Catimba ... De Leon, Ancheta e Adílson descobrindo um jeito de jogarem juntos ... Renato numa ponta e gringo Ortiz na outra...Flecha, Wilson Cavalo, Beto Fuscão e Beto Bacamarte, pela poesia dos nomes... Ronaldinho voltando e deixando irado o PSG... Arce e Roger... Emerson e Everaldo ... Dener e PC Caju... Éder e Loivo... Chamaco e Scotta ... Baltazar e Jardel. Jogam mais do que onze neste time pois a matemática dos sonhos tem seus caprichos.
O mais fascinante seria a mixagem da trilha sonora : quero escutar a bola roçando a rede, o desabafo do zagueiro adversário, a torcida saindo do silêncio, a volta dos que já saiam do estádio. Ao mesmo tempo, quero ouvir a narração do gol com todos os clichês possíveis.
Quero que algum repórter invada o campo na hora da comemoração para que eu diga algo incompreensivelmente ofegante em meio a palavrões. Quero ouvir o cara do plantão dando as estatísticas antes que o comentarista confesse sua surpresa.

Um cartão amarelo por vibração excessiva seria o final perfeito para o gol que eu quero fazer num GreNal. Se me empolguei e acabei pedindo demais, tenho outro sonho, talvez mais acessível : pegar um pênalti num GreNal. Um milagre. Canto esquerdo. Eu estaria usando um uniforme igual ao que vejo nas fotos do Eurico Lara, mas seria no moderno Olímpico Monumental pós-Hélio Dourado.
Pensando bem, será que eu não posso pegar um pênalti E fazer o gol decisivo em um mesmo GreNal? Puxa, todo gaúcho deveria ter este direito!

Humberto Gessinger - Porto Alegre
Revista Nação Tricolor

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