Thursday, April 26, 2007

Exilada

Quando percebeu, estava sozinha. Não que realmente estivesse, havia outros ali. Era como se estivesse em uma ilha, cercada de animais. Não que ali fosse realmente uma ilha. Talvez um dia tenha tido água, árvores quem sabe. Agora só restava asfalto, nada ali tinha alma. Asfalto e os animais. Não que fossem animais. Eram todos humanos, aqueles lá. Ela que ali era um animal. Não que realmente fosse, sempre soube que não, e no fundo desde cedo lamentara a dose extra de angústia e racionalidade (em menor grau, esta última) que a fazia diferente dos pobres coitados (?) enjaulados no zoológico. O fato é que.
Não, é verdade, não importava quem era humano, quem era animal. Ela só percebia que era diferente daquela multidão que passava freneticamente por ela, entre postes, avenidas, buzinas e concretos. Pernas de todas as cores, pernas drummonianas. Não importavam as pernas, nem todo o resto que vinha com elas, passando correndo morrendo ali, do lado dela, quase por cima dela. Ela estava oca. E irremediavelmente sozinha.

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